22/06/2011

Cultura de Direita

"Diz-se, por exemplo, que a cultura está à esquerda porque é ali em que se encontra mais dinheiro, de editoras, de meios de propaganda. E também afirma-se que se o vento mudasse, muitos 'comprometidos com a esquerda' revisariam seu engagément.

Em tudo isso há parte de razão. Uma cultura ou, melhor, o ponto de partida do qual tem necessidade uma cultura são também organização, dinheiro e propaganda. Resulta induvidável que o predomínio esmagador das edições de orientação marxista, do cinema social-comunista, convida ao engagément também a muitos que em um ambiente diferente teriam permanecido neutros.

Sem embargo, isso não deve fazer-nos esquecer a verdadeira causa do predomínio da hegemonia ideológica da esquerda. Esta reside no fato de que ali, na esquerda, existem as condições para um cultura, existe uma concepção unitária da vida, materialista, democrática, humanitária, progressista. Esta visão do mundo e da vida pode assumir diferentes matizes, pode tornar-se radicalismo e comunismo, neo-iluminismo ou 'cientificismo' de caráter psicanalítico, marxismo militante e cristianismo positivo de natureza 'social'. Porém sempre nos encontramos frente a uma visão unitária do mundo, dos fins da história e da sociedade.

Dessa concepção comum surge uma massiva produção ensaística, histórica e literária que pode ser mesquinha e decadente mas que possui uma lógica e uma coerência íntima próprias. Esta lógica, esta coerência exercem uma fascinação crescente sobre as pessoas cultas. Não é nenhum mistério para ninguém que um grande número de docentes médios e universitários é marxista e que o processo de extensão do marxismo entre o corpo de profissionais do ensino verifica-se com uma impressionante rapidez. E entre os jovens que tem o hábito de ler, as posições de esquerda ganham terreno de forma evidente.

No âmbito da direita não produz-se nada semelhante. Aqui vaga-se em uma atmosfera deprimente, feita de conservadorismo  caseiro e respeitabilidade burguesa. Pode-se ler artigos nos quais solicita-se que a cultura tenha mais em conta os 'valores patrióticos' ou a 'moral', tudo por meio de uma pitoresca confusão de idéias e linguagens.

À esquerda sabe-se perfeitamente o que é que se quer. Quer esteja-se a falar da nacionalização do setor elétrico ou urbanístico, da história da Itália ou da psicanálise, sempre trabalha-se para um fim determinad, para a difusão de uma determinada mentalidade, de uma certa concepção da vida.

À direita anda-se tateando na incerteza e na imprecisão ideológica. É-se 'patriótico-ressurgimentista' e ignora-se os aspectos obscuros, democráticos e maçônicos que coexistiram no Ressurgimento com a idéia unitária. Ou bem aposta-se em um 'liberalismo nacional' e esquece-se que o mercantilismo e o nacionalismo liberais constribuíram de maneira importante para a destruição da ordem européia. Ou, inclusive, fala-se de Estado nacional do trabalho e esquece-se que, desgraçadamente, já temos uma república italiana fundada no 'trabalho' e que reduzir a estes termos nossa alternativa significa simplesmente rebaixar-nos ao nível de social-democratas acessórios.

Quiçá as pessoas cultas não sejam em menor número à direita do que à esquerda. Se considera-se que a maior parte do eleitorado de direita é burguês, dever-se-ia deduzir que entre eles são abundantes as pessoas que tenham realizado estudos superiores e deveriam ter contraído um certo 'hábito de leitura'.

Sem embargo, enquanto o homem de esquerda dispõe também dos elementos da cultura de esquerda e lê Marx, Freud, Salvemini, o homem de direita dificilmente possui uma consciência cultural de 'Direita'. Não suspeita da importância de um Nietzsche na crítica à civilização, jamais leu um único romance de Jünger ou Drieu La Rochelle, desconhece a Decadência do Ocidente de Spengler e não duvida em absoluto que a Revolução Francesa constituiu uma página insigne na história do progresso humano. Enquanto mantém-se no âmbito da cultura é um bravo liberal, somente, talvez, um pouco nacionalista e patriota.

Unicamente quando começa a falar de política diferencia-se: Opina que Mussolini era um homem honesto e não queria a guerra e que os filmes de Pasolini são 'obscenos'.

Não falta muito para dar-se conta de que à direita não existe uma cultura porque não existe uma verdadeira idéia da 'Direita', uma visão do mundo qualitativa, aristocrática, agonística, antidemocrática; uma visão coerente acima de certos interesses, de  certas nostalgias e de certas oleografias políticas."
(Adriano Romualdi)