28/01/2011

Desdenhar o elemento bárbaro

"Seria coisa de imprudentes ou de distraídos não sentir medo ao ver tantos homens jovens, de educação distinta à nossa e com costumes próprios, ocupados nos afazeres da guerra dentro de nosso território (...)

Mas não preparar as forças necessárias para fazer-lhes frente, conceder a extensão do serviço militar a todos os que a solicitam, na idéia de que aqueles são já nossas forças militares, e permitir aos de nosso país que se dediquem a outras coisas, tudo isso não é a conduta de homens que correm para sua perdição? É preciso, ao invés de tolerar que sejam uns citas os que aqui portam as armas, pedir aos homens de nosso campo que sejam eles os que lutem para defendê-lo, e efetuar um alistamento tão massivo como para tirar o filósofo de seu lugar de meditação, o artesão de sua oficina e de seu comércio aquele que dele cuida. E toda essa massa de preguiçosos, que por seu muito ócio consomem sua vida nos teatros, também deveremos persuadi-los de a levarem a sério, antes de que passem do riso ao pranto, sem que piores ou melhores escrúpulos sejam um obstáculo para o nascimento de uma força armada própria de romanos. Pois bem, antes de chegar até onde já nos vamos encaminhando, devemos recuperar aqueles altos sentimentos dos romanos e nos acostumar a conseguir por nós mesmos as vitórias, sem nos contentar em ser meros partícipes, mas sim desdenhando do elemento bárbaro onde quer que ele se encontre."
(Sinésio, bispo de Cirene, Carta ao Imperador Arcádio)